[O Direito Negado] - 2008

É-me negado o direito a sofrer
De estar só, fatigada da minha companhia!
Como velha estátua está cansada do escultor...

Porque uma valsa tem que ter par,
E uma dança deve ser de alegria!

É-me negado o direito de estar com dor
Porque no mundo lúcido dos outros
Não cabe pena, nem desafeto, Ou amor...

É-me negado o direito ao choro
De ver-me sendo impulsionada pelo peito,
Sem privar uma lágrima ao seu direito
Sem convite limitado para a dor!

Porque assim dizem os afortunados,
Que o sal deve ser recolhido apenas no mar;
E marés alagam essa beleza!

É-me negado o sorriso de melancolia!
Esse direito que tenho de descansar a alegria!
De não unir-me a gostos breves
Que vem em vão, sem nada deixar!

É-me negado o direito ao silêncio
Esse que tenho calado no fundo do peito!
Para evitar a transparência de sentimentos
Aos corvos que os vêem buscar!

Mas estou exposta como carne morta aos arredores!
Sou o alimento dos que esperam a infinita melhora
Porque amam a forma, mais que o desafeto que me adoece por dentro!

E estou ardente como gelo...
Mas a febre não incomoda, não evita, não afasta!
Sou a oportunidade, o acariciar da vaidade!

Claudia Venegas.